terça-feira, 28 de julho de 2020
A mulher que eu fui, a mulher que eu sou
Nesse tempo de quarentena tem sobrado tempo para pensar na vida, no passado, no que conquistei e no que ainda almejo. Na verdade, desde o inicio desse ano tenho sido desafiada a buscar um novo sentido para as coisas, ressignificar a minha existência. Desde o dia 10 de janeiro tenho vivido uma turbulência de sentimentos que só amplificaram com a pandemia. Tudo se tornou tão intenso que mal consigo me expressar em palavras. Aliás, o que mais me faltou esse ano foram palavras que pudessem dizer 10% do que eu estava sentindo. Tudo aconteceu tão rápido, tão inesperado, que as vezes acordo achando que estava em um pesadelo. Mas não, é só abrir os olhos, ligar a televisão para saber que tudo o que estamos vivendo por mais surreal que pareça é real. Eu diria que esse ano foi perdido em muitos sentidos, no trabalho, no amor, na amizade, mas olhando bem posso ver que sem querer se tornou um ano sabático para mim. Em que deixei tudo de lado e tive que olhar para dentro, tão dentro que parecia que não sobreviveria ao meu próprio olhar, foram momentos de afundar em mim, olhar para tudo o que eu havia passado até o momento, todas as injustiças que senti me queimarem como ser humano. Tenho achado até que tudo isso me tornou um pouco dura, parei de tentar manter conexões que já haviam se perdido, sem razão qualquer, só porque escolhas foram feitas e caminhos distintos foram tomados. Parei de querer todo mundo na minha vida pelo resto da minha existência. Isso não tem como acontecer, não há como manter toda minha história presente na minha vida, a não ser através de lembranças e que boas lembranças eu tenho, que gratidão sinto pela minha existência, pela minha história. Eu olho e ainda acho milhões de coisas que precisam melhorar, inseguranças a serem resolvidas, carência que não devem mais ter o seu lugar, mas que mulher me tornei. Alguém que teve que desconstruir todas as limitações impostas para conquistar a almejada liberdade, liberdade de experimentar caminhos, de bater a cabeça, de chorar por decisões precipitadas, mas que pode caminhar com os próprios pés. Ainda há muitos que me consideram ingênua, eu mesma vivo me achando boba por acreditar tanto nas pessoas e fico inconformada quando as pessoas não agem de forma ética e honesta comigo, mas quem sou eu para julgar? Só porque luto para fazer a coisa certa, tentar ser uma pessoa melhor não significa que todos buscam o mesmo caminho. E esse ano me fez enxergar como pessoas que eu muito amei se tornaram tão distantes de mim, do que acredito e do que busco ser, não consigo entender ainda em que momento essa divisão se tornou possível, só sei que ela aconteceu e me trouxe muitas dores. Estou tendo que deixar muita gente que ainda amo para trás, o que ainda é muito difícil para mim, porque tenho a tendência de arrastar as pessoas comigo, para onde eu for, mesmo que elas não queiram. Mas o momento mostra que cada um tem o seu tempo de busca, de conhecimento e que não podemos carregar as pessoas com a gente. Deixa-las para trás não é deixar de amá-las, pelo contrário, é aprender a ama-las como realmente são, respeitando seu tempos e seu crescimento. Não tenho sido tempos fáceis, mas posso dizer que quando olho para trás e para o presente tenho mais o que agradecer do que reclamar. Afinal tenho seguido um caminho tortuoso para alcançar o que eu ainda nem sei bem o quê...
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