quarta-feira, 29 de abril de 2020
2020 o ano que não deveria existir
Nem estamos no final do ano para ser necessário fazer o balanço deste ano tão estranho. Talvez prevendo o que viria Deus me proporcionou um final de 2019 bem tranquilo. Apesar de muitas coisas não terem ocorrido de acordo com o meu desejo, foi possível passar o Natal e Ano Novo em tremenda paz, junto a minha família e a um casal de amigos que eu muito amo. Não houve pressa de ir embora, não houve aborrecimentos que me perturbassem como normalmente ocorre. Eu realmente estava em paz, crente de que 2020 não seria melhor, mas que eu seria melhor para o ano de 2020. Mas eis que foi um belo engano, logo em seus dez primeiros dias recebi uma amostra do que este ano seria e do quanto eu não estava preparada para as dores que necessitaria enfrentar. Fui arrancada do meu posto de trabalho, depois de sete anos de dedicação intensa, de profunda entrega, de vencer diversos desafios, de ter passado por um surto que me deixou marcas irreversíveis. Fui despejada do lugar que ajudei a construir. E se não bastasse ter sido extirpada sem nenhuma justificativa vim a descobrir que este teria sido um pedido de pessoas que eu confiava, que eu gostava, que juntos tinham vivido grande parte dos desafios comigo. Foi um momento revelador em que questionei toda minha trajetória, tudo o que eu acreditava ter conquistado com ajuda daquelas pessoas. Será que tudo o que tinha vivido era uma farsa? Que todas as vitorias alcançadas teriam sido obra da minha imaginação? E o que eu tinha feito para merecer tanta deslealdade? Confesso que nem todas ainda estão respondidas em minha cabeça, não houve muito tempo para que eu pudesse elaborar tais questões e me preparar para o meu novo trabalho, logo o mundo todo foi abatido por uma pandemia que nos obrigaria a ficarmos isolados em casa, sem contatos sociais e como muitas incertezas. Há 45 dias estou trancafiada, longe dos amigos e da família, os poucos planos que eu tinha conseguido refazer depois do primeiro golpe vivido foram adiados e tem sobrado tempo para pensar na vida, remoer dores e tentar buscar novos caminhos. Mas o fato é que o momento é de tantas incertezas que nem sei se é possível pensar em outros caminhos. Não tenho me sentido nem um pouco criativa ou esperançosa, além de toda essa situação dramática de saúde vivemos uma conjuntura politica complicadíssima que me faz querer nunca ter nascido no Brasil, o pais que eu tanto amo. São tantas reflexões que este momento tem me permitido fazer, tantas historias ele tem permitido eu revisitar, mas que não necessariamente tem me levado a um lugar seguro. As emoções estão todas emaranhadas que às vezes é até difícil respirar. O mergulho para dentro de mim está tão profundo que há receio de que eu me afogue neste mar tão infinito. Ainda faltam um pouco mais de 7 meses para acabar o ano, mas eu não preciso que ele termine para saber que este foi o ano mais estranho, aterrorizador e dolorido de todos que vivi. Mas também não preciso que ele acabe para saber que depois dele nada mais será igual, que haverão ocorrido tantas transformações que nem será possível dimensionar quem eramos antes...
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