quarta-feira, 24 de junho de 2015

Texto de Ruth Manus

Muito além do valor do aluguel. Voar: a eterna inveja e frustração que o homem carrega no peito a cada vez que vê um pássaro no céu. Aprendemos a fazer um milhão de coisas, mas voar… Voar a vida não deixou. Talvez por saber que nós, humanos, aprendemos a pertencer demais aos lugares e às pessoas. E que, neste caso, poder voar nos causaria crises difíceis de suportar, entre a tentação de ir e a necessidade de ficar. Muito bem. Aí o homem foi lá e criou a roda. A Kombi. O patinete. A Harley. O Boeing 737. E a gente descobriu que, mesmo sem asas, poderia voar. Mas a grande complicação foi quando a gente percebeu que poderia ir sem data para voltar. E assim começaram a surgir os corajosos que deixaram suas cidades de fome e miséria para tentar alimentar a família nas capitais, cheias de oportunidades e monstros. Os corajosos que deixaram o aconchego do lar para estudar e sonhar com o futuro incrível e hipotético que os espera. Os corajosos que deixaram cidades amadas para viver oportunidades que não aparecem duas vezes. Os corajosos que deixaram, enfim, a vida que tinham nas mãos, para voar para vidas que decidiram encarar de peito aberto. A vida de quem inventa de voar é paradoxal, todo dia. É o peito eternamente divido. É chorar porque queria estar lá, sem deixar de querer estar aqui. É ver o céu e o inferno na partida, o pesadelo e o sonho na permanência. É se orgulhar da escolha que te ofereceu mil tesouros e se odiar pela mesma escolha que te subtraiu outras mil pedras preciosas. E começamos a viver um roteiro clássico: deitar na cama, pensar no antigo-eterno lar, nos quilômetros de distância, pensar nas pessoas amadas, no que eles estão fazendo sem você, nos risos que você não riu, nos perrengues que você não estava lá para ajudar. É tentar, sem sucesso, conter um chorinho de canto e suspirar sabendo que é o único responsável pela própria escolha. No dia seguinte, ao acordar, já está tudo bem, a vida escolhida volta a fazer sentido. Mas você sabe que outras noites dessa virão. Mas será que a gente aprende? A ficar doente sem colo, a sentir o cheiro da comida com os olhos, a transformar apartamentos vazios na nossa casa, transformar colegas em amigos, dores em resistência, saudades cortantes em faltas corriqueiras? Será que a gente aprende? A ser filho de longe, a amar via Skype, a ver crianças crescerem por vídeos, a fingir que a mesa do bar pode ser substituída pelo grupo do whatsapp, a ser amigo através de caracteres e não de abraços, a rir alto com HAHAHAHA, a engolir o choro e tocar em frente? Será que a vida será sempre esta sina, em qualquer dos lados em que a gente esteja? Será que estaremos aqui nos perguntando se deveríamos estar lá e vice versa? Será teste, será opção, será coragem ou será carma? Será que um dia saberemos, afinal, se estamos no lugar certo? Será que há, enfim, algum lugar certo para viver essa vida que é um turbilhão de incertezas que a gente insiste em fingir que acredita controlar? Eu sei que não é fácil. E que admiro quem encarou e encara tudo isso, todo dia. Quem deixou Vitória da Conquista, São José do Rio Preto, Floripa, Juiz de Fora, Recife, Sorocaba, Cuiabá ou Paris para construir uma vida em São Paulo. Quem deixou São Paulo pra ir para o Rio, para Brasília, Dublin, Nova York, Aix-en-provence, Brisbane, Lisboa. Quem deixou a Bolívia, a Colômbia ou o Haiti para tentar viver no Brasil. Quem trocou Portugal pela Itália, a Itália pela França, a França pelos Emirados. Quem deixou o Senegal ou o Marrocos para tentar ser feliz na França. Quem deixou Angola, Moçambique ou Cabo Verde para viver em Portugal. Para quem tenta, para quem peita, para quem vai. O preço é alto. A gente se questiona, a gente se culpa, a gente se angustia. Mas o destino, a vida e o peito às vezes pedem que a gente embarque. Alguns não vão. Mas nós, que fomos, viemos e iremos, não estamos livres do medo e de tantas fraquezas. Mas estamos para sempre livres do medo de nunca termos tentado. Keep walking.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Bipolar eu?

Entre ontem e hoje passei a dois sentimentos completamente contraditórios. Ontem estava nas nuvens com a possibilidade de um novo relacionamento, que chegou do nada, mas com uma força assustadora. Eu arriscaria a dizer que foi amor à primeira vista, coisa possivelmente de outra vida, pela sintonia, pela química, encaixe perfeito e a rapidez magica com que tudo aconteceu. Planos futuros e a longo prazo começaram a borbulhar na minha cabeça, coisa antes nunca pensada e muito menos sonhada, a certeza de que essa era a pessoa nascida pra mim fez-me sentir como uma adolescente descobrindo o amor pela primeira vez. No entanto, ao acordar hoje, o sentimento foi de puro egoismo: como assim abandonar a minha liberdade, o meu ir e vir, a minha preocupação unica e exclusiva comigo mesma para dividir com outra pessoa? Ter que pensar e decidir a dois, por mais que fizesse parte do que eu achava que queria, não faz parte a muito tempo da minha vida pratica. Não me parece, nessa altura da vida, fácil ter que deixar outra pessoa entrar, dominar meu tempo, meus sentimentos, meus planos, meus dias. E se não for pra sempre? E se não for tudo que estou imaginando? Por que ter que passar por um processo tão difícil que é a separação? E por que pensar na separação se nem ao menos iniciamos algo? Por que pensar tanto? E aí tudo que planejei para um próximo relacionamento cai por água abaixo, toda a tranquilidade e desencanação que pensei poder exercer desaparecem...aí eu penso, quando vou aprender? Aprender a simplesmente viver cada momento em sua intensidade e aceitar as coisas boas e ruins que cada momento traz?

domingo, 7 de junho de 2015

“- Existe uma palavra em alemão: Lebenslangerschicksalsschatz. E a mais próxima tradução seria ‘O tesouro do destino ao longo da vida.’ E Victoria é ’wunderbar’, mas ela não é minha Lebenslangerschicksalsschatz. Ela é minha Beinaheleidenschaftsgegenstand, sabe? Isso significa ‘Aquilo que é quase aquilo que você quer, mas não completamente.’ E é isso o que Victoria é pra mim. – Mas como sabe que ela não é Lebenslangerschicksalsschatz? Talvez com o passar dos anos ela se torne mais Lebenslangerschicksalsschatz. – Não, não, não. Lebenslangerschicksalsschatz não é algo que se desenvolve ao longo do tempo, é algo que acontece instantaneamente. Atravessa você como água de um rio depois da tempestade, preenchendo e esvaziando você ao mesmo tempo. Você sente isso em todo o seu corpo. Nas suas mãos. No seu coração. No seu estômago. Na sua pele. Já se sentiu assim com alguém? – Acho que sim. – Se tem que pensar a respeito é porque não sentiu. – E tem absoluta certeza que encontrará isso um dia? – É claro. Eventualmente todo mundo encontrará. Só que nunca saberá onde ou quando.” (How I Met Your Mother)

sábado, 6 de junho de 2015

Descontrole

Mas que história é essa de você viver dizendo que quer se apaixonar, que quer que alguém te surpreenda, que quer alguém para compartilhar as viagens, as decepções, as alegrias, os amigos, os sorrisos, a vida...e quando isso acontece você é a primeira a correr e se esconder? Que história é essa de você sempre desconfiar que o que chega tem hora determinada para ir embora, que não é verdadeiro, que sempre tem um porém por trás de tudo?.... e se realmente tiver? Porque não viver enquanto ele está aí, batendo a sua porta, dizendo o quanto te quer no aqui e o no agora, o quanto você está fazendo a diferença e te chamando, pra não dizer gritando para viver, para a amar, para se apaixonar. Que história é essa de ficar lamentando que nunca te acontece nada e quando acontece, mesmo que não seja do jeito que você imaginava, você não aproveita e vive um pouco? Sem preocupações, sem mais, sem menos, sem definições, sem explicações, sem porquês, POR FAVOR, apenas viva. Realmente pode ser que o que tem hoje não seja o de amanhã e muito o menos o "pra sempre", mas ainda assim não quer dizer que não vale a pena. Tente, pelo menos dessa vez sentir tudo que há para se sentir, sem ter que racionalizar isso, perde toda a graça e todo o colorido que a situação pode te proporcionar. Aproveite, abuse da paixão, da sintonia e do amor que está sentindo, aproveite enquanto está viva e é capaz de sentir isso...ele pode não durar até o amanhã, mas com certeza fará do hoje inesquecível!