Agora, talvez, eu possa entender um pouco da tristeza que carrego, que faz imensurável força pra ficar, para permanecer em minha vida. Mudança. Essa é a palavra que vem me aterrorizando ao passar dos anos e pela qual eu ainda não havia dado conta. Não sabia que era isso que eu temia, que é isso que tanto me assusta e me incomoda. Eu já tinha tido sinais de que mudanças nem sempre são agradáveis. E por um instante, hoje, me dei conta de tantas mudanças que ocorreram em minha vida das quais não me sinto satisfeita. A entrada na faculdade foi a coisa mais maravilhosa que poderia me acontecer, com ela vieram grandes responsabilidades e transformações que eu levaria para o resto da vida. Foi com ela também que veio a separação definitiva da minha vida e de minha irmã, os anos de diferença que nos separam nunca foram favoráveis para que nós nos conhecêssemos de verdade, em cada fase da minha vida minha irmã estava seis anos adiantada e bem isso nos trouxe uma distancia nunca diminuída. Nós não tivemos amigos em comum, não fomos companheiras e nem parceiras em nenhum momento. Seu casamento na época foi para mim apenas mais uma festa, afinal eu já estava acostumada a não tê-la por perto...
Durante a faculdade grandes amizades foram encontradas, grandes histórias realizadas, um grande amor nasceu e morreu ali, na cidade que para mim foi o lugar onde vivi a melhor época da minha vida. Época essa em que podia se viver tudo o que desejasse, a época em que eu podia me arrepender do que quisesse que ainda haveria tempo de fazer diferente. A época da minha juventude, época em que não tive tempo para pensar no me esperava, nas despedidas que eu teria que participar, das pessoas que eu teria que me separar.
E mesmo sem tempo de pensar chegou a hora em que o sonho acabou. A formatura chegou e mais uma vez as mudanças tomaram conta da minha vida, que desde então nunca mais foi a mesma. E nem teria como ser, um dia precisamos crescer, mesmo não querendo. Minhas melhores amigas de infância se casaram, algumas tiveram filhos, outras arrumaram empregos distantes, algumas amizades foram desfeitas, alguns partiram para lugares que não posso visitá-los, outros começaram a namorar e eu fui para o outro do lado do Brasil.
Mas não importa onde estou, onde meus amigos estão, onde minha família está. Desde que me formei até hoje não consegui me encontrar, não consegui descobrir o que tenho que fazer, nem o que preciso construir pra ser feliz. Não consigo me sentir parte de nada. Vejo que todos, de uma forma ou outra seguiram em frente, eles não tem tempo para pensar no sentido da vida, qual o seu significado ou o que estamos fazendo aqui. Isso porque eles têm uma vida para viver e eu, infelizmente, não consigo ter.
Por mais que eu tente ter paciência, que eu busque artimanhas para me livrar desta dor, dessa tristeza eu simplesmente não consigo. Não gosto, não aceito as mudanças que me impuseram. Não quero crescer e deixar aquilo que foi bom. Não quero ter que cuidar de mim mesma sozinha, embora seja isso que todos nós fazemos, desde nosso nascimento até a morte...Eu não quero!